É…
O dia amanheceu e começou uma nova semana, a última do mês de novembro.
E levantei com uma vontade de estar com vocês, ou de pelo menos saber que estão por perto e que os poderei chamar por telefone, visitá-los ou recebê-los caso sinta saudade.
Pois é, levantei com uma saudaaaaaade. Isso mesmo, saudade de novo e sempre!
E o fato é que hoje, segunda-feira, 26/11/2007, é dia de aniversário de 1 (um) ano fora de casa, distante da família, dos amigos e da terrinha Recife, Pernambuco, Brasil. Algumas horas duraram uma eternidade; outras, voaram à velocidade da luz. Em muitos momentos, foi essa a relação confusa entre sentimentos, saudade e relógio do tempo.
Há um ano na Espanha, no Sul do país, em terras banhadas pelo mediterrâneo meridional, na Costa do Sol Ocidental, vejo e sinto o inverno chegar novamente e com ele o frio. Está frio como no comecinho quando cheguei. A diferença é que tenho um verão aí pelo meio pra contar história. Verão que fez os termômetros saltarem dos 5 para os 45 graus. Andaluzia quente como nunca. Sul da Espanha literalmente tostando. Assim como vimos passar em outros lugares. É a velha tônica das mudanças climáticas. Alguém já ouviu falar? Pois é, as alterações seguem acontecendo, e só nós que não alteramos a postura diante delas. Enfim, parece comédia, mas não é. Agora, chega o frio outra vez. E frio mesmo chega com o recomeço e com o despertar de um novo ano, com o renovar da esperança em dias melhores. Chegou o friozinho de novo, enquanto por aí pela terrinha está aquele calor. Pelo menos o frio por essas terras é mais ameno que em outras partes da Europa, menos intenso que em outros lugares do mundo, como já comentei em mensagens anteriores. Se bem que em alguns desses lugares bem frios, de muita neve bem branquinha e de imensas geleiras, o frio, a neve e o gelo já não são mais os mesmos. E eu aqui de novo com isso de alteração climática. Tudo bem é um pouco obsessiva essa história...rsrsrs
Mas, o pior é que ainda há quem pense que “isso de alterações climáticas é mera conspiração” e que só se dará conta quando o teto cair na cabeça, o chão se abrir debaixo dos pés, quando for levado com casa e tudo por uma enchente, vendaval, furacão ciclone, quando for asfixiado pelo incêndio de hectares e hectares de floresta ou simplesmente quando sentir na pele qualquer um desses tantos fenômenos fruto desses câmbios climáticos que insiste em não ver ou julga conspiração.
Voltando à questão inicial, antes de me perder no devaneio das "mudanças climáticas", a questão é que pra Nordestina como eu, está é um frio “arretado”.
Especialmente hoje o sol se levanta mais brilhante e da minha janela vejo o claro azul do céu contrastando com um azul de tonalidade mais escura em toda imensidão do mar.
O mar, que mesmo com todo crescimento que experimentou essa cidade turística nos últimos anos, ainda se deixa contemplar desde a janela do 9º andar de um edifício alto, antigo hotel, o qual não mais se destina a sua função inicial. Se antes turistas ocupavam os quartos e pagavam pelos pernoites, hoje são cidadãos espanhóis, ingleses, alemães, marroquinos e de tantas outras nacionalidades que fazem dos antigos quartos de hotel sua primeira ou segunda residência, alugada ou própria, por temporadas ou permanente.
Mas, sabem que além da luz solar, outra luz iluminou meu dia: a luz da AMIZADE!
Estou feliz por saber que existem seres tão especiais que um dia conheci. Pessoas as quais chamo de amigos e que estiveram todo esse tempo torcendo por mim, assim como estive torcendo para que tudo transcorresse bem em suas vidas.
Alguns vieram me visitar e outros eu fui visitar. Há também aqueles que trilharam um caminho parecido e estão aqui pertinho, na Espanha ou em outros países, seguindo seus estudos e/ou trabalhando, vivendo novas experiências e ampliando seus horizontes.
E há um detalhe importante. Mesmo em outras terras e mares, a distância jamais será suficientemente distância para que me esqueça de vocês.
Meu eterno respeito, carinho e amor, àqueles que chegaram ao meu coração e que me permitiram um cantinho no seu coração também.
Amo vocês, família e amigos queridos, exatamente como são.
Um ano distante, experimentando novas sensações, conhecendo outros territórios, culturas e pessoas, construindo novos conceitos e reforçando antigos conceitos também, pude ver que há uma imensidão de mundo para além de nossas fronteiras de bairro, município, estado, região, país, continente. E haja filosofia pra ver, ouvir e entender tudo que passa entre o céu e a terra nessa enorme aldeia global.
Global, remeteu-me à globalização. Nesse aspecto, o que sinto é que a aldeia pode até se chamar “global”, mas infelizmente não inclui a todos por mais que o nome indique o contrário, pois há muitas barreiras a serem derrubadas. E os que dela fazem parte são como números para as estatísticas. Nesse sentido, a estatística traduz realidade(s) injusta(s), desigual (is), discriminatória(s) e, dependendo da conveniência, cega(s). Há tantos que simplesmente são inexistentes para essa aldeia global, que passam despercebidos ou não interessam e sequer conseguem ser computados. Há tantos que parecem não ser vistos como “pessoas” e que nem um número para as estatísticas conseguem ser. Não é absurdo? Ou será outro devaneio?
Deixando um pouco os devaneios de lado, queria que soubessem que viver nesse território fisicamente longínquo serviu para intensificar a falta que vocês me fazem, para dar ainda mais valor a minha terra, ao meu Brasil, a minha gente sem igual. Foram diversas as situações de aprendizado, as ricas experiências e divertidas também. Em meio a tudo isso, também houve instantes difíceis, por diversas razões e em diferentes circunstâncias, momentos em que só desejei o “colo” e o carinho dos meus pais, da minha irmã-amiga, ou aquele ouvido amigo e atento de toda vida.
No decorrer de pouco mais de 1 ano, Recife, família, amigos, minha universidade, meus queridos alunos e também amigos aí no Brasil deixaram, em teoria, de fazer parte do meu cotidiano, mas na prática continuam presentes em minha caminhada e aprendizado. Nesse período, como já os comentei, venho vivenciando um novo cenário, Espanha, a nova morada, a cultura do povo espanhol, os companheiros de apartamento de outros países, a Universidade de Málaga, o doutorado e os queridos novos amigos do curso, as disciplinas obrigatórias, o frio e o calor (ambos “intensos” considerando minhas origens), projeto de investigação e tantas outras coisas. Nasceu também um amor, um dos melhores e mais bonitos acontecimentos ao largo desse ano longe de casa.
Enfim, a vida segue. Há que remar, mais lento ou mais rápido, mais suave ou mais forte, conforme encontremos mares calmos ou agitados, com sabedoria, paciência, tolerância, paz e muito amor, pois o importante é tocar o barco pra frente rumo ao horizonte da felicidade que está dentro de nós e também está na realização dos nossos sonhos. E se algum sonho parece difícil ou distante de realizar, não paremos de sonhar, nem deixemos de buscar. É certo que “nem sempre o mar está pra peixe”, “nem tudo são flores”, como diz a sabedoria popular. Mas, há sempre o dia em que o pescador se lança ao mar e Deus preparou para ele uma pescaria farta, assim como há sempre o momento em que nos surpreendemos e nos maravilhamos com a beleza e o perfume das flores quando chega a Primavera. Que sonhemos sempre, pois enquanto há sonho, há vida!
Um abraço a todos.
Fabiana